SuSpirou de alegria!
Há quase 18 anos vendi ao desbarato a minha colecção do “Spirou” na Feira da Ladra, provavelmente para financiar alguma noite “punk” de vinho tinto, ganzas e whisky colas no Juke Box, ou para pagar o bilhete para um concerto de PIL no dramático de Cascais.
Era a minha fase “punk” comungada com o meu amigo Luís Valente, que trabalhava nas matinés de uma casa de alterne em Paiões, e por isso tinha dinheiro para ser um punk com alguma qualidade de vida.
Eu cá tive de hipotecar os meus parcos bens infantis (entre outras rapinagens, se a minha mãe soubesse o destino que dei às colheres de chá das partilhas da Ti Palmira…), para ser um “teen punk” como deve ser; afinal o sabão azul para espetar o cabelo não era propriamente barato e os discos dos “Sex Pistols” na Feira da Ladra também não.
Assim, durante uns meses lá assentei arraiais nas madrugadas da Feira da Ladra e vendi tudo o que podia vender.
Do desbarato desse meu património infantil apenas recordo com saudade e amargura a minha preciosa colecção de livros do “Spirou”.
E se há coisa que sempre me arrependi na vida foi ter alienado o Spirou porque achava que precisava mais da guita do que das aventuras do “paquete” ruivo.
Vivi com este arrependimento até este sábado, quando li que o “Público” se prepara para lançar mais uma colecção de BD. Depois de Tintin, Corto Maltese e Lucky Lucke, chegam agora vinte álbuns de “Spirou”, muitos deles inéditos em português.
Nem consigo explicar como estou feliz, emocionado e ansioso para reencontrar os meus velhos amigos, que traí há quase vinte anos por um punhado de dólares.
O intrépido Spirou e o seu inseparável e neurótico amigo Fantásio; o silencioso e corajoso esquilo Spip; o exótico e temperamental Marsupilami, animal que tem uma cauda capaz de desferir murros mais devsatadores que Cassius Clay; o Conde de Almourol (que na nova colecção se chama Conde de Champignac); e claro, os “bad guys”, como o primo Zantáfio, um escroque da pior espécie, ou o temível Zorglub, um destrambelhado génio do mal.
O primeiro álbum “A máscara misteriosa” sai já esta quarta-feira e é precisamente um dos meus preferidos, e talvez o mais hitchcockiano de todos - a história de como procurar o passaporte em casa pode iniciar uma série de imprevisíveis eventos…Obrigado ao jornal “Público” por me dar oportunidade de resgatar o meu amigo “Spirou” e de passar a levantar-me mais cedo às quartas-feiras para ir a correr à banca. O reencontro com a memória feliz da nossa infância é sempre uma boa forma de nos mantermos vivos e felizes.
2 comentários:
Meu caro, como eu partilho esta tua paixão pelo Spirou. E como atravessei também esse ímpeto capitalista da puberdade vendendo ao desbarato todas as minhas colecções de BD na Feira da Ladra. Raio de maneira de começar a gostar de dinheiro. Não sei bem porquê, mas o Spirou foi a única que escapou... felizmente.
Graças a este teu post fui finalmente à procura da minha coleccao do Spirou,
há muito perdida e ainda em casa da minha mae, numa das caixas que nunca chegaram a aparecer no Porto...e que mamãe na semana seguinte a eu sair de casa, "ARRUMOU",
ou seja fez desaparecer (juntamente com o meu gato Roberto) até hoje.
Ora, caixote para aqui, caixote para ali, 12 casas e 15 anos depois...Voilá, aqui esta ela, inteirinha, intacta e com "cheiro" de pequeno tesouro!!!(o gato ainda nao encontrei).
beijinho para ti.
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