Take 4 – O que é preciso para fazer um western? Um Cristo amputado, garrafas de whisky, charutos e muita imaginação
É simples. Basta ter um feroz cinéfilo de 22 anos, que devora filmes, sobretudo clássicos e é uma enciclopédia sobre o género western. Fechá-lo durante um mês num quarto andar em Lisboa a escrever um guião e a enviar SMS`s à borla para o elenco com notas de produção, estilo: Deixa crescer a barba; arranja chapéus de cowboy e pistolas; preciso de livros do Lucky Lucke, são fixes para ver os enquadramentos.
Uma visita à Feira da Ladra ajuda para os objectos e o guarda-roupa: uma estátua de Cristo amputado, um cinturão de um velho General na reforma, uma derringer de imitação.
Leg: Kit Carson tenta adoçar o pistolão do realizador mais rápido do Oeste, para ver se deita fumo. Química mal aplicada.
Depois é preciso cravar e planear. Cravar espingardas de caça de colecção ao tio, o cavalo do Leonel, pás para enterrar os mortos, cordas para enforcamentos, ovelhas, escadotes, muitas garrafas de whisky e algumas de sumo de maçã, cabeças de cabrito, charutos e sei lá mais o quê.
Tudo se arranja, tudo se desenrasca. E lá vamos para o fim do mundo com a tralha toda na velha carripana de caixa aberta do “Pai Fernandes”, mais habituada a transportar ameixas de exportação para a República Checa do que “estrelas” de cinema.
Depois é a logística e o plano de rodagens. Uns actores metem férias, outros fazem piscinas entre o Fundão e Janeiro de Cima. O dia começa sempre às 8 da manhã e não há dia sem imponderáveis: as cólicas do realizador, a chuva a potes e alguns “arrufos” entre a equipa – Eu cá não salto desse penhasco para o rio, tu és mas é maluco, salta tu!
Tudo na boa, que o filme é para fazer, custe o que custar, doa a quem doer. Mais do que um western-chanfana, “Lost west” é uma grande cóboiada.
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