História improvável das coisas - O anzol
Ao contrário do que sugere a Bíblia, em carta de S.Paulo ao Corinthias, não foi Moisés que inventou o anzol no concurso de pesca para veteranos organizado pelo Faraó do Egipto. Moisés inventou sim a cana de pesca, que não era mais do que o seu cajado, que ele utilizava afanosamente no mar para rachar taínhas à bordoada, criando a ilusão óptica de abrir o mar ao meio. Dan Brown promete dismistificar mais esta encenação histórica do Vacticano no seu próximo bestseller - "Dar cana - Se queres ajudar um homem ensina-o a pescar sem galochas"
No Canadá, os ursos alimentavam-se de peixinho do rio desde tempos imemoriais. Peixinho fresco para gula ursolina, pescado à patada com uma arte desajeitada cujo sucesso só foi possível graças à quantidade de carpas que saltitavam nos rios gelados das florestas do Quebec.
Para desenjoar de peixe, os ursos, por vezes salteavam carpa ao molho de ostras, com índio tártaro, ou até algum explorador mais afoito, de carne rija, mas saborosa.
Vivia-se assim numa paz predadora até aparecerem os franceses com bigodes retorcidos e grande gorros de pele, que sem cerimónias, apontavam os bacamartes e mosquetes a qualquer ser vivo que não pronunciasse correctamente a célebre expressão “on y soit qui mal y pense”.
Como os ursos não dominavam o francês, nem sequer as subtilezas cortesãs de Henrique VII, logo se tornaram alvo dilecto de Lafayette e seus sequazes.
Por vezes um francês era comido, sem cerimónia por um urso gourmet com especial apetência pelo fígado dos franceses – Que foie gras de estalo! Exclamava o Ursolino.
Mas normalmente acontecia o inverso e os ursos do Quebec estavam a virar botas de caçador de peles e gorros com cauda à banda.
Isto para gáudio das carpas e trutas que se reproduziam livremente como numa comunidade anti-contraceptiva.
Uma vez escorraçados os ursos, e com eles os gamos, os veados, os índios e até dois calvinistas suecos (que tinham longos cabelos e portanto não eram calvos, nem usavam restaurador Olex, apesar de serem calvinistas), os exploradores franceses tiveram de se dedicar à pesca.
Faltando-lhes a pata exímia e colossal do urso, os franceses tiveram de puxar pelo engenho herdado do sangue carolíngio, e começaram a pescar com cana e à linha.
O problema era, obviamente criar um engodo que levasse as sabidas carpas a morder o nó no fundo da linha, e foi então que um ex-condenado da Guiana, encarcerado por atropelos matrimoniais a um Conde de Vichy, inventou a solução que iria mudar o mundo da piscicultura, e com ele a indústria dos enlatados.
Brucy Jeanzol tinha perdido um braço num duelo sujo com um sacerdote Voodoo no Haiti e usava um gancho reluzente na ponta da unha.
Era o melhor pescador da Nova Fronteira com o seu gancho certeiro. Animado por um espírito comercial e empreendedor que só os gascões possuem, Brucy Jeanzol decidiu iniciar o fabrico de pequenos ganchos em ferro, adaptando as esporas dos cavalos, e colocando-as nas pontas das canas de pesca.
As carpas tinham encontrado um inimigo temível, mas não se deixavam enganar facilmente, e foi depois de palitar os dentes com o gancho após uma lauta refeição e o lavar no rio, como as lavadeiras de Caneças, que Jeanzol descobriu o engodo.
E dai a célebre expressão com que as carpas encaram fatalmente a vida – à espera do engodot.
A invenção do francês-maneta foi mais tarde registada pelo Clube Desportivo Pescadores da Costa da Caparica, que numa homenagem ao seu criador decidiu baptizar a geringonça-pesqueira de - anzol.
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