2/21/2008

Somos ricos em bitaites

Será que se pode conversar sobre alguma coisa neste país sem despoletar uma querela, sem inflamar o radicalismo, sem criar zaragatas, barafundas e “vendettas”? Bom senso, tolerância e pluralismo são mais raros do que um banqueiro cristão honesto neste reino da trafulhice organizada e do fanatismo sem rédeas.
O debate sobre o aborto, um tema que devia ser de consciência, descambou num escarcéu de feira. A localização do novo aeroporto, tema técnico-político, derivou numa berraria manipulatória que conduziu o balido do rebanho à tosquia certa, e os lobos esfaimados a exigirem cordeiros para a incineração (neste caso ministros) e terrenos para a construção. Agora, temos a ASAE e a lei do tabaco a dividir a opinião pública e publicada, como se estivéssemos à beira de uma guerra civil.
É uma doença mórbida que aflige e gangrena, é a clubite facciosa, que divide o mundo em preto e branco. Só há dois partidos em Portugal – a favor e contra.

E como é que se forma a opinião em Portugal? Regra geral por interesse próprio e mesquinho – no caso da lei do tabaco é flagrante – é contra quem fuma, é a favor quem não fuma. Noutros casos a opinião é moldada pelos media e os seus papagaios dilectos, que à força de tanto papaguearem evidências pouco evidentes nos convencem a “aderir” e a telefonar para o Praça Pública, ou escrever cartas para os jornais. Noutros casos, a opinião forma-se por mera embirração – o Sócrates é um arrogante – e pronto, já está! O Guterres era muito dialogante, e lixou-se; este é um orelhas moucas, e também se vai lixar.
Num país de broncos, néscios e intrujas, é admirável ver as mais insuspeitas vocações nascerem de geração espontânea – pode sem incompatibilidade ser-se especialista em embriologia, ornitologia, engenharia aeronáutica, pneumonologia, ares-condicionados, direito comunitário, colheres de pau e, claro, saber escalpelizar o losango do Paulo Bento com maior precisão do que um pente de risco ao meio. Tudo sem ter de passar além das gordas da “Bola” ou das patarequices do Professor Martelo.
Há em todo o português um opinion maker, um Rui Santos, aos saltinhos na gravata para ser escutado, respeitado, e sobretudo seguido na sua mundivisão.
Somos pobres, lemos pouco ou nada, mas temos uma riqueza mais inalienável do que as dunas do Litoral devoradas pelos PIN`s da ganância imobiliária.
Temos opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Um povo assim tão esclarecido precisa de choque tecnológico para quê? Eu aliás sou contra dar computadores à borla aos putos para verem sites pornográficos na net? Mas que pouca vergonha!

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