O pelourinho e o baraço no país do juiz desembargador
Sempre achei a figura do juiz desembargador deliciosamente medieval, um artefacto de solene cagança à medida de Gil Vicente, a remeter para a justiça do pelourinho. Agora o que temos é justiça do colarinho branco e do punho de rendinhas. O juiz desembargador afinal não passa de um pequeno arlequim no grande psicodrama da Justiça, ou da ilusão dela.
Faltam pelourinhos para dependurar pelo baraço os colarinhos encardidos pela cupidez e pela corrupção.
Mas isso pouco importa nesta estrebaria mediática. Preferimos crucificar o director da PJ por este ter dito a verdade a propósito da precipitação da PJ no caso Maddie. Preferimos zurzir à bastonada o lombo do bastonário dos Advogados por este ter dito em voz alta a verdade sobre a corrupção em vez de a sussurrar em surdina. Preferimos o folclore. Merecemos o folclore e a trafulhice em que estamos imersos até ao pescoço. Este é o país-fantoche que se indigna com a sinceridade e se aferrolha nos silogismos e nas sofisticações de uma justiça e de um sistema judicial permeável ao poder ao dinheiro e aos interesses confortavelmente instalados. Este é o país onde Ferreira do Amaral se sente confortável na presidência de uma empresa que beneficiou de um acordo leonino assinado por ele enquanto ministro. Este é o país onde Pina Moura entende ética pela lei “strictu sensu”.
Este é, finalmente o país onde o Tribunal de Oeiras decidiu arquivar o processo contra Isaltino Morais devido às habituais artimanhas jurídicas, o mesmo Tribunal que condenou um trabalhador da construção civil a 75 dias de prisão (remissíveis em coima) por não ter pedido uma autorização ao Governo Civil para exercer o seu direito à manifestação.
Este é o país torto que jamais se endireita, enquanto o direito estiver ao serviço dos ricos, poderoso e das potestadades deste reino da trafulhice organizada.
Venha o pelourinho e o baraço.
Sem comentários:
Enviar um comentário