Cadernos do Molusco- El Capitalismo Foraneo segundo Pepe Carvalho
«Para mim globalização é um eufemismo que mascara a significação real, vigente da fase actual de desenvolvimento do imperialismo capitalista, isso a que balsamicamente chamamos, capitalismo multinacional.»
Pepe Carvalho em "Milénio II: Antípodas" o derradeiro livro de Vásquez-Montalban.
Há escritores que se podem conhecer assim, de trás para a frente. Como um jantar que se começa pela sobremesa, conforme a sugestão de Alfred Jarry. A organização dos sabores é uma convenção, tal como um plano de leitura. Foi assim com Vásquez-Montalban. Comecei pelo xerez e pelo queijo danish blue, ou seja pelo "Milénio", opus magnum em dose dupla do escritor espanhol, em que o detective gourmet Pepe Carvalho e o seu fiel escudeiro Biscuter dão a volta ao mundo, numa jornada de reencontro e despedida, que coloca Vasquez-Montalban no Olimpo da escrita de viagens, deixando Chatwin remetido a uma claustrofobia patagónica.
A mundivisão de Montalban é soberba, humana e comovente, sem ser lamechas ou grandiloquoente, e a sua obsessão degustativa, que marca toda a odisseia de Pepe Carvalho e Biscuter, descarana o fio condutor das culturas - a paparoca, a comidinha.
Já desde os lanches descritivos de Enid Blyton em "Os Cinco", que nenhum escritor me abria assim o apetite. Comecei pela sobremesa, e passo agora ao amouse de bouche - "Mistério dos Mares do Sul", o primeiro livro da série do detective comunista, gourmet e desencantado, Pepe Carvalho. Um "flashback literário" depois do derradeiro "Milénio: Antípodas". Há viagens que apetece fazer assim, de trás para a frente, esta é uma delas.
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