Arquétipo do pensamento anti-tabágico, ou pior do tensamento totalitário
Só para se perceber que a discussão sobre as leis anti-tabágicas transcende em muito uma mera questão de saúde pública, e revela uma pulsão totalitária que saltita ai dentro de muita gentinha, passo a transcrever o esclarecedor comentário que o senhor André Silva, estudante de Medicina, teve a amabilidade de fazer chegar a este infecto e oculto barzinho na internet:
«Eu acho este post um atentado à liberdade das pessoas. A minha liberdade termina onde começa a liberdade dos outros. Será que eu posso ter o direito de ir a um sítio público e não correr o risco de ser incomodado por um fumador egoísta? Será que isto é discriminação do fumador? O fumo faz mal à saúde, e eu não sou obrigado a sofrer por causa de um viciado ter vontade e direito de fumar. É mesmo muito desagradável. O estado já comparticipa em muito os fumadores, ao dar dinheiro para o sistema nacional de saúde que trata os que são doentes por causa do tabaco. AVCs, infartes, cancro do lábio, da língua, do esófago, do pulmão, da bexiga, pancreas, insuficiência respiratória aguda, doença pulmonar obstructiva crónica, bronquite crónica, etc... Todas estas doenças e muitas mais têm uma incidência muito aumentada nos fumadores, e quem paga é o estado, e todos nós. E os viciados continuam a fumar. Triste a mentalidade daqueles que acham que têm o direito de fumar onde querem, por serem livres, sem se preocupar se estão a prejudicar os outros. Mentalidades mais avançadas, como por exemplo existem em alguns países nórdicos. Na Suécia, por exemplo, toda a assistência médica é gratuita, e o tabaco não é proibido, mas quem for fumador sujeita-se a pagar pelos seus tratamentos, no caso de ser atingido por uma doença cuja incidência seja aumentada pelo tabaco. Quer fumar, fume, mas na altura de fazer a quimioterapia para o câncro do pulmão, paga!»
Caro André Silva
Está no seu pleno direito de achar o que quiser, e invocar as razões que quiser. Eu próprio concordo que é necessário limitar e regular os locais onde se pode fumar e proteger as pessoas como o senhor, que se sentem lesadas e ameaçadas pelo fumo dos outros.
Há decerto formas mais equilibradas de o fazer do que aquelas que a União Europeia tem copiado do fanatismo-higiénico dos EUA.
Mas se em relação aos limites da liberdade de fumar nunca poderemos estar de acordo, porque se trata também de uma questão de regulação de liberdades (a única possível para pessoas como o senhor é o exercicio total e absoluto da vossa liberdade de impedir os outros de gozar um prazer ou se quiser, um vício - a isso chama-se totalitarismo, não liberdade).
Portanto com um discurso como o seu, dificilmente se poderia chegar a um entento cordiale, porque não pode haver entendimento cordial com a intransigência que pretende remeter os viciosos fumadores a uma espécie de ostracismo punitivo e castigador.
Já quanto ao seu raciocinio-sanitário-fascista sobre os custos para o Sistema Nacional de Saúde do tratamento de doenças provocadas pelo fumo, gostaria apenas de relembrá-lo que o Estado português, por exemplo, arrecada por ano 1400 milhões de euros com impostos sobre o tabaco, ou seja, praticamente um quarto do que está consgrado anualmente no Orçamento de Estado para o Ministéro da Saúde, dinheiro que mais tarde servirá para lhe compôr o seu ordenado em concomitância com o sector privado (desejo-lhe eu).
Ou seja, o dinheiro que os "viciados" desembolsam para "sustentar" o seu vício, sustenta largamente muitos dos vícios do Estado, e também o tratamento das doenças e achaques de saudáveis e viçosos não fumadores quando vão a um Hospital ou a um Centro de Saúde tratar de qualquer problema da sua preciosa e sagrada saudinha.
Eu penso que 1400 milhões de euros por ano nos dão o direito, a todos nós fumadores, de não ter de aturar esse seu argumentozinho mesquinho e ignorante.
Um argumentozinho, que levado à letra implicaria por exemplo a demissão do Estado do seu papel de regulador social e de solidariedade, e que implicaria a não comparticipação em tratamentos a toxicodependentes (quem é que os manda drogar), a doentes de SIDA (quem os manda ter sexo inseguro ou injectar-se com seringas contaminadas), a mulheres que queiram abortar em segurança (quem as manda ter gravidezes indesejadas), a doentes hepáticos (quem os manda meter-se nos copos) ou mesmo a tratamentos dentários (quem os manda não lavar os dentes e comer bolas de berlim). Esta é a sua lógica implacável, o que convenhamos, para futuro médico, não está nada mal.
Atentado à liberdade das pessoas não é o meu post "metafórico", atentado à liberdade das pessoas é o seu "elaborado" pensamento, que nem sequer é um pensamento económico-liberal, é simplesmente, um pensamento idiota.
Se há um rio da liberdade, nós estamos em margens opostas, o que devo lhe dizer é uma ideia muito tranquilizante para a minha margem.
PS: Quando eu fizer a quimioterapia para o meu cancro do pulmão até posso pagar, em compensação, o meu caro senhor terá sempre a grande vantagem de morrer cheio de saúde, o que deve ser, pelo menos, consolador para um futuro médico.
Quanto ao mais, vá à saudabilissima badamerda!
Atentamente
Um fumador contribuinte do SNS com cerca de 600 euros/ano em impostos sobre o tabaco e outros tantos em imposto sobre o álcool. Ou seja, ao fim de uma vida útil de fumador e bebedor(estimada em 30 anos) terei contribuido aproximadamente com trinta mil euros em impostos, parao SNS, o que dará para ajudar o Estado a tratar-me durante um aninho, antes de me finar com uma das terríveis doenças que fez o favor de enumerar.
6 comentários:
A resposta à indignação de tão jovem e promissor técnico da saúde, toldado evidentemente pelo fanatismo convicto de que os fumadores são um "alvo a abater", assenta, a meu ver, numa argumentação serena e óbvia.
Neste momento não sou fumadora e, embora o meu organismo reaja negativamente a ambientes com fumo, mantenho o bom senso de respeitar fumadores e não fumadores... não será tudo mesmo uma questão de bom senso?!
Também sendo completamente a favor de espaços preservados de fumo, como locais públicos, passo o pleunasmo, públicos por oposto a privados, e ainda completamente a favor da criação de espaços onde os não-fumadores não me chateiem por estar a fumar, não consigo aceitar que os fumadores sejam ostracisados e banidos dos locais que frequentam, templos dos nossos vícios, comida, bebida, fumo. Não cosigo deixar de achar piada a este argumento, apresentado por tão douto e aplicado estudante de medicina, revela a estupidez fanática que espera os fumadores num futuro próximo. Desenvolvendo ao absurdo gostaria de perguntar ao senhor futuro doutor (caso ele alguma vez leia estas linhas) se ele não se sente indignado por o dinheiro dos seus impostos ser gasto no serviço nacional de saúde para socorrer as vítimas de desastres automóveis, por exemplo, aposto que será um condutor certinho, não conduz embriagado, não excede os limites de velocidade e cumpre todas as regras de segurança viária, não se sente mal por os hospitais gastarem dinheiro com os idiotas que se espetam todos os dias por irresponsabilidade?
Ou os gordos, se eu não sou obesa, porque tenho de pagar as curas dos outro? Este argumento bem esticadinho dava pano para mangas e até podia ir parar às scuts e demonstra nada mais que um egoísmo de querer viver num mudo em que todos são iguais, vestem de igual, comem a mesma roupa, à sua medida, à sua dimensão, de acordo com nada mais que o seu umbigo.
Devo só acrescentar que a mim, o que ainda me incomoda muito, é acabar de jantar e algum betinho olhar para mim com um olhar reprovador por estar a fumar o meu cigarro num sítio onde o posso fazer.
Saudações de uma fumadora, que paga mais dinheiros em impostos do que aquele que vai custar o senhor doutor a formar-se médico...
CLAP CLAP CLAP
TSCHEKH (não sei imitar o som de um isqueiro)
PHHHHHEEEEEEEEEEE...
PHHHHUUUUUU...
Que bem que me sabe este cigarro agora...
Saltas-te para o meu espaço... tens que lá estar...
Até porque no teu bar... tudo pode acontecer
Abraço
PS: tens lume?
Ah ah ah
eu até vinha aqui comentar, mas vou ali fumar um cigarro à socapa na janela, que estes intervalos entre cirurgias são curtos e eu fumo cigarros compridos
ah! e subscrevo o badamerda
;)
Por acaso o fumo dos cigarros até me incomoda e até fico com as minhas alergias um bocado mais activas, mas uma coisa é certa, és dos gajos mais assumidos que eu conheço! E isso é muito bom nos dias de hoje!
Sobre este assunto do tabaco, sou a favor de arranjar um consensozinho para tentar não incomodar muito os que não querem ser incomodados, de um lado e de outro! Choca-me um bocado ver grávidas a fumar ou pais a atirarem o fumo para a cara dos filhos. Mas por enquanto acho que o mundo ainda tem espaço para todos convivermos e que bom que é haver opiniões diferentes das nossas! E poder haver adequação às situações sem radicalismos nem generalizações!
Um beijinho da também grande apreciadora de cerejas da cova da beira,
catarina
(PS-para quando um novo jantarzinho amigável?)
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