História improvável das coisas - A gaita
Tavares um emigrante brasileiro na suiça foi flautista e inventou a gaita de beiços, depois pediu asilo político em Portugal, deixou a música e montou um restaurante para ricos e outro para pobres, onde se serviam bochecas de porco ao vinagrete, consideradas pelo Guia Michelin as melhores da Europa supra-sahariana
O flautista soprou com brandura naquele novo instrumento especialmente desenhado por um coronel reformado do Exército austro-húngaro, e patenteado na Societê des Idées Génerales de Genéve.
A banda aguardava pacientemente o solo do flautista naquele instrumento que prometia revolucionar os arranjos filarmónicos e introduzir um novo cunho bélico nas pautas das marchas militares.
O flautista soprava, mas nada, nem um único som.
A cortar o ar apenas a respiração ofegante do maestro em suspenso, e um pigarrear mais impaciente de algum Almirante na reserva, dos muitos que compunham a plateia daquela pequena sala de música de câmara em Innsbruck.
Num derradeiro esforço, o flautista sopra no novo instrumento, enchendo as bochechas como uma câmara-de-ar de uma bicicleta.
Suando em bica, ouve-se a sua voz melífula moldar a impotência que lhe vai na alma – Que grande gaita!
E assim ficou gravado na memória dos homens o nome daquele instrumento de sopro, que mostrou ser completamente inútil para produzir revoluções conceptuais na história da música contemporânea (pelo menos até Stockausen ser apanhado de lingerie no banho com uma gaita nos beiços), mas que provou ser de grande benfeitoria para a linguagem popular, especialmente quando pisamos a bosta negligente de qualquer cachorro no jardim, ou tentámos montar um móvel do IKEA com manual de instruções.
A gaita, mais do que um som de precursão, é um desabafo, já para não falar de outras conotações, próprias de chocar os espíritos puros e os ouvidos imaculados.
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