Flatulência no condomínio fechado
Elias entrou perfumadinho e apressado no elevador. Morava no 12º andar. Ao passar o 8º, distraido com as suas coisinhas, soltou um monumental e sonoro peido, devidamente perfumado com um pivete de agoniar alcatifas. Faltavam 8 andares, e Elias entrou em pânico – E se entra um vizinho???!!!!. O elevador moderno pareceu abrandar à velocidade daqueles ascensores do início do século, tamanho era o medo de ser surpreendido em flatulante delito. Iam-lhos caindo ao chão, quando com um sonoro dling, a cabine estancou no 4ª andar, deixando entrar uma vizinha balzaquiana, toda aprumada no seu tailleur e permanente. Lançou a um trémulo Elias um severo – Bom dia ! – a que este gaguejou resposta envergonhada. Escondeu o olhar no aviso da reunião de condóminos, tentando ignorar o pútreo cheirete que inalava em golfadas intensas, como se respirasse o ar do mar sobre uma falésia. De esguelha tentou descortinar na vizinha um esgar de agonia, mas esta manteve uma face de esfinge imperturbável, lançando-lhe apenas um olhar metálico e frio, que no espírito de Elias se constituiu como autêntico libelo acusatório de crime intestinal. Elias corou até à raiz dos cabelos, e escapuliu-se de mansinho, assim que o elevador aterrou no rés-de-chão. A vizinha balzaquiana continuou a viagem até à garagem e entrou no seu Audi A3, sacando de imediato um lencinho Kleenex, assoando-se ruidosamente: - Maldita constipação!
Envergonhado até à morte, Elias passou a utlizar as escadas até ao 12º andar renegando as feijoadas e o grão com bacalhau.
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