11/12/2003

Nem Rei nem rock

O palácio estava assombrado de silêncio, desde que o rei decretara as enxaquecas da rainha uma calamidade nacional.
Os insuportáveis tocadores de harpa e os bardos palacianos foram enviados para as cruzadas, os bobos da corte ordenados monges calados, e todo o tipo de sons melodiosos banidos daquele reino.
Até os rouxinóis foram impedidos de chilrear a edital de besta e fisga certeira. Reinava pois um silêncio sepulcral no reino e em especial no Palácio. Mas, nem por isso, as enxaquecas da rainha mostravam sinais de melhoras, para desespero do rei que se via obrigado a buscar conforto no regaço das cortesãs. Um dia, um bufarinheiro de terras longínquas estacou com a sua carroça, montra de parafernálias que fariam inveja à mais recheada boutique do diabo.
Entre elas um transístor vindo da América, que um pajem da rainha, adquiriu com o seu mísero soldo.
Às escondidas do rei, o pajem e a rainha iniciaram então as mais desenfreadas orgias nos aposentos da rainha, devidamente isolados do som, já que enquanto o pajem e a rainha se entregavam com ardor à melhor terapia anti-enxaquecas que a Medicina Divina já inventou, o transístor emanava o som ambiente na FM Rock, com guitarradas dos Rolling Stones a embalarem os múltiplos orgasmos da Rainha – I can get no satisfaction.

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