Enforcado amador
Primeiro de tudo o mocho. É essencial uma madeira barata, pinho lamelado talvez. Depois, percorrer aleatoriamente as páginas amarelas, até encontrar uma página em branco. Escrever uma morada incerta, e acertar contas com um carpinteiro. Contratado o escropo e a polaina, visitar um bar de marinheiros velhos.
Beber aguardente, praguejar e apalavrar dois metros de corda grossa de alto mar, com manchas de humidade provocada pela desinteria das gaivotas, ou incontinências de marujos em “delirus tremens”.
Consultar a Internet e não aceitar os seus conselhos. Amantizarmo-nos com uma revendedora Avon, que faz uma perninha no porta-a-porta do Círculo de Leitores. Adquirir a enciclopédia britânica, saltar a entrada de Átila, o flagelo de Deus, directamente para nó godo.
No quintal de um vizinho ausente em férias na Quarteira aproveitar a sombra da tangerineira chocha, para instalar o mocho. Posto o mocho à sombra, enlaçar a corda maruja com o nó godo no tronco apodrecido.
Colocar um disco de uma banda de casórios macedónios na instalação insonora do condómino.
Vestir o traje de lantejoulas, aprumar o penacho do chapéu bicudo. Respirar devagar, pela última vez.
Gritar em tom de desafio – Eh Touro lindo!
E morrer suspenso numa tangerineira seca. Enfrentar a morte pelos cornos, com um nó godo na garganta.
V7
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