Produções fictícias formam Governo
As Produções Fictícias também podiam fazer o programa de Governo do PS, ou o António Vitorino podia escrever gags para os Contemporâneos, que ia dar ao mesmo. Melhor mesmo só o nihilismo liberal do PSD. Para falar verdade, basta não dizer nada. Que grande farra esta!
“Funde uma sociedade de pessoas honestas, todos os ladrões estarão nela.”
Alain
Os programas de Governo dos partidos são como os livros do Saramago e do Lobo Antunes – ninguém os leu, mas toda a alminha tem uma opinião sobre eles.
Quando muito, um cidadão bloguista deita uma esguelha, um jornalista curioso dá uma à val d`oiseaux e os gabinetes de estudos dos partidos adversários sublinham com um marcador de feltro as partes para malhar.
Dos programas de Governo conhecemos apenas as versões “reader`s digest” que os jornais nos servem ao sabor das suas inclinações de momento – e neste momento é fácil de ver qual é a inclinação geral.
É pena, porque os programas de Governo são habitualmente dos poucos momentos em que os políticos revelam imaginação literária, propensão para a ficção social e um admirável lirismo de aldrabões. Todos sabemos que os programas de Governo não são para cumprir. Aliás, promessas para cumprir em Portugal só mesmo à Senhora de Fátima, e mesmo essas…
Mas é sempre estimulante imaginar as cabeças pensantes dos partidos a fazer umas noitadas a café expresso e mangas de camisa, esgalhando umas boas tiradas governativas, como gags para uma noitada de stand up comedy.
Um programa de Governo feito pelo PS ou pelas Produções Fictícias faz-se exactamente da mesma maneira e tem exactamente o mesmo valor e efeito – é de rebolar de riso.
Como bom português, li o programa de Governo do PS, e posso fazer-vos um resumo preguiçoso – basicamente, o senhor Vitorino dos pareceres milionários tratou de copiar muito bem copiadinhas as políticas estatistas e intervencionistas do Obama, só que sem o Obama e sem o pilim. Mais Estado e melhor Estado, e claro, apoios às PME`s para acelerar a competitividade da economia nacional e obrigar a senhora do PSD a agitar a permanente e a meter a viola no saco.
O programa de Governo do PS é uma espécie de novo contrato social à Rousseau, nós vamos para uma esplanada beber finos e comer caracóis e o Estado trata do resto. Porque assim que se injectarem mais uns milhões nas PME`s, se plantarem mais umas ventoinhas nas serras e se construir o TGV, estamos safos.
Acho muita piada a essa história das PME`s que recebem apoios para formação e modernização à quinhéculas, e continuam pequenas, médias, ou raquíticas.
O PS fez um programa de Governo de esquerda – prometendo apoios sociais até para andar de triciclo, só não explicou lá muito bem quem é que paga a conta. Festas assim também eu sei dar.
Mas o PS tem pelo menos o mérito de já ter um programa de Governo, enquanto os outros partidos ainda andam às turras para fazer as listinhas do casório com o poder.
O Bloco de Esquerda e o PC não precisam de anunciar as grandes linhas de orientação para o país, porque o seu programa é de anti-governo. Limitam-se a contestar o programa do PS, nas partes que leram; enquanto o PP não tem gente suficiente para alugar um T3 quanto mais para escrever um programa de Governo. Basta andar pelas feiras e mercados a dizer que é preciso mais polícia nas ruas e apoio para a velhice, e esperar que o PSD ganhe as eleições para ir fazer contratos de submarinos para o Governo.
Estes partidos não precisam de programa de Governo porque sabem que nunca serão Governo, e um programa de oposição é fácil de fazer – hay govierno, soy contra.
Já o PSD, partido com experiência da gamela, prepara-se para revolucionar a Ciência Política e obrigar João Carlos Espada a reescrever os seus manuais na católica.
Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira e aquele senhor com ar de totó do Porto que anda sempre aos pulinhos atrás da senhora e é advogado; esta santíssima trindade prepara-se para instaurar em Portugal o primeiro regime Nihilista Liberal do mundo.
A fórmula é simples – não prometer nada que não se possa cumprir. Ora esta máxima deve obrigar a uma grande ginástica mental para produzir um programa de Governo.
Se encherem uma folha A4, já não é mau.
Mas como povo beckettiano que somos, lá iremos alegremente entregar a choça ao cavaco de saias, acreditando piamente na máxima “o nada é quase tudo”.
Nada fazer e deixar a mão invisível fazer o resto (além de apoiar as PME`s, claro está) é o programa de Governo do PSD, não abdicando de combater o défice com receitas extraordinárias (vendendo as pratas e as PT`S que restam), como a senhora sempre fez enquanto ministra das Finanças.
Temos pelo menos o consolo de ser senhora séria e falar verdade. Ora, não dizendo é muito mais fácil de não aldrabar. E assim pela caladinha, a honestíssima e venerável senhora lá vai cozinhando as listas de comensais ao banquete de poder que se avizinha, distribuindo as futuras tenças entre personalidades como António Preto ou Helena Lopes da Costa, arguidos em casos de abuso de poder e corrupção, que podem figurar nessas listas porque o PSD achou prudente não aprovar a lei que há dois anos está em banho-maria na comissão da especialidade. Uma lei que impede arguidos em processos criminais de se candidatarem a cargos públicos. Ah, que refrescante é esta lufada de seriedade e ética na sociedade portuguesa. O nihilismo liberal é o futuro, infelizmente o nosso.
“Funde uma sociedade de pessoas honestas, todos os ladrões estarão nela.”
Alain
Os programas de Governo dos partidos são como os livros do Saramago e do Lobo Antunes – ninguém os leu, mas toda a alminha tem uma opinião sobre eles.
Quando muito, um cidadão bloguista deita uma esguelha, um jornalista curioso dá uma à val d`oiseaux e os gabinetes de estudos dos partidos adversários sublinham com um marcador de feltro as partes para malhar.
Dos programas de Governo conhecemos apenas as versões “reader`s digest” que os jornais nos servem ao sabor das suas inclinações de momento – e neste momento é fácil de ver qual é a inclinação geral.
É pena, porque os programas de Governo são habitualmente dos poucos momentos em que os políticos revelam imaginação literária, propensão para a ficção social e um admirável lirismo de aldrabões. Todos sabemos que os programas de Governo não são para cumprir. Aliás, promessas para cumprir em Portugal só mesmo à Senhora de Fátima, e mesmo essas…
Mas é sempre estimulante imaginar as cabeças pensantes dos partidos a fazer umas noitadas a café expresso e mangas de camisa, esgalhando umas boas tiradas governativas, como gags para uma noitada de stand up comedy.
Um programa de Governo feito pelo PS ou pelas Produções Fictícias faz-se exactamente da mesma maneira e tem exactamente o mesmo valor e efeito – é de rebolar de riso.
Como bom português, li o programa de Governo do PS, e posso fazer-vos um resumo preguiçoso – basicamente, o senhor Vitorino dos pareceres milionários tratou de copiar muito bem copiadinhas as políticas estatistas e intervencionistas do Obama, só que sem o Obama e sem o pilim. Mais Estado e melhor Estado, e claro, apoios às PME`s para acelerar a competitividade da economia nacional e obrigar a senhora do PSD a agitar a permanente e a meter a viola no saco.
O programa de Governo do PS é uma espécie de novo contrato social à Rousseau, nós vamos para uma esplanada beber finos e comer caracóis e o Estado trata do resto. Porque assim que se injectarem mais uns milhões nas PME`s, se plantarem mais umas ventoinhas nas serras e se construir o TGV, estamos safos.
Acho muita piada a essa história das PME`s que recebem apoios para formação e modernização à quinhéculas, e continuam pequenas, médias, ou raquíticas.
O PS fez um programa de Governo de esquerda – prometendo apoios sociais até para andar de triciclo, só não explicou lá muito bem quem é que paga a conta. Festas assim também eu sei dar.
Mas o PS tem pelo menos o mérito de já ter um programa de Governo, enquanto os outros partidos ainda andam às turras para fazer as listinhas do casório com o poder.
O Bloco de Esquerda e o PC não precisam de anunciar as grandes linhas de orientação para o país, porque o seu programa é de anti-governo. Limitam-se a contestar o programa do PS, nas partes que leram; enquanto o PP não tem gente suficiente para alugar um T3 quanto mais para escrever um programa de Governo. Basta andar pelas feiras e mercados a dizer que é preciso mais polícia nas ruas e apoio para a velhice, e esperar que o PSD ganhe as eleições para ir fazer contratos de submarinos para o Governo.
Estes partidos não precisam de programa de Governo porque sabem que nunca serão Governo, e um programa de oposição é fácil de fazer – hay govierno, soy contra.
Já o PSD, partido com experiência da gamela, prepara-se para revolucionar a Ciência Política e obrigar João Carlos Espada a reescrever os seus manuais na católica.
Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira e aquele senhor com ar de totó do Porto que anda sempre aos pulinhos atrás da senhora e é advogado; esta santíssima trindade prepara-se para instaurar em Portugal o primeiro regime Nihilista Liberal do mundo.
A fórmula é simples – não prometer nada que não se possa cumprir. Ora esta máxima deve obrigar a uma grande ginástica mental para produzir um programa de Governo.
Se encherem uma folha A4, já não é mau.
Mas como povo beckettiano que somos, lá iremos alegremente entregar a choça ao cavaco de saias, acreditando piamente na máxima “o nada é quase tudo”.
Nada fazer e deixar a mão invisível fazer o resto (além de apoiar as PME`s, claro está) é o programa de Governo do PSD, não abdicando de combater o défice com receitas extraordinárias (vendendo as pratas e as PT`S que restam), como a senhora sempre fez enquanto ministra das Finanças.
Temos pelo menos o consolo de ser senhora séria e falar verdade. Ora, não dizendo é muito mais fácil de não aldrabar. E assim pela caladinha, a honestíssima e venerável senhora lá vai cozinhando as listas de comensais ao banquete de poder que se avizinha, distribuindo as futuras tenças entre personalidades como António Preto ou Helena Lopes da Costa, arguidos em casos de abuso de poder e corrupção, que podem figurar nessas listas porque o PSD achou prudente não aprovar a lei que há dois anos está em banho-maria na comissão da especialidade. Uma lei que impede arguidos em processos criminais de se candidatarem a cargos públicos. Ah, que refrescante é esta lufada de seriedade e ética na sociedade portuguesa. O nihilismo liberal é o futuro, infelizmente o nosso.
“Em política, sucedemos a imbecis e somos substituídos por incapazes”
Georges Clémenceau
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