Lavagante - A Primavera segundo José Cardoso Pires
"Depois de meses e meses de chuva cerrada, a Primavera, com uma persistência vegetal, secreta, conseguira vencer o manto húmido que pesava sobre a cidade. Nas últimas semanas, o ar estava ligeiro, aliviado, e era a Primavera, finalmente a Primavera, tal como ela costumava chegar a Lisboa depois de muitas hesitações e de muito trabalho para vencer as nuvens na costa. As pessoas mal dão por isso. Um belo dia sentem a necessidade de olhar o céu, vêem azul, um azul fino, alegre, e dizem: Já sei. - Depois descobrem as pombas do Rossio e as colinas pousadas diante do rio, cobertas de luz macia, feminina; descobrem uma nova expressão no andar das mulheres e um novo perfume - nelas e na cidade. E todos regressam mais tarde aos autocarros e a casa. É isso a Primavera: um novo sentido no olhar, uma nova velocidade. - Já sei - dizem as pessoas."
Esta é uma das brisas de "Lavagante", peça notável de José Cardoso Pires, resgatada às águas turvas do esquecimento por esse camaroeiro metódico e amigo - Nélson de Matos.Num tempo de escritinha piegas e comiserativa, de céus plúmbeos de vaidades, que bom é olhar para o céu azul, fino e alegre, e dizer - Já sei! É o velho Cardoso Pires. E bebemos o oitavo ou décimo, esquecendo os autocarros da vida.
6 comentários:
Então é aqui que se esconde meu colega de Pnet Pelejão!!
Em Porto Alegre já passa das 20 horas, estou cansado depois de uma longa e quente jornada ao volante do táxi, mas não vou me furtar a uma olhada por este bog. Afinal, uma vodka antes de ir pra cama ajuda a achar o sono.
Há braços!!
Pois é... mas este ano só me apetece gritar, Primavera, chega por favor! fazes tanta falta! um beijinho
Mauro, aquele abraço, eu bebo daqui uma capipiroska (em vez da cachaça, vodka) em tua saúde.
Não desesperes Catarina, já falta pouco :)
Beijinhos
:-)
muito bonito. é mesmo assim, não é?
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