4/15/2007

Poesia em flor






Entre Março e Abril



Que cheiro doce e fresco,

por entre a chuva me traz o sol,

me traz o rosto,

entre março e abril,

o rosto que foi meu,

o único

que foi afago e festa e primavera?



Oh cheiro puro e só da terra!

Não das mimosas,

que já tinham florido

no meio dos pinheiros;

não dos lilases,

pois era cedo ainda

para mostrarem o coração às rosas;

mas das tímidas, dóceis flores

de cor difícil,

entre limão e vinho

entre marfim e mel,

abertas no canteiro, junto ao tanque



Frésias,

ó pura memória

de ter cantado -

pálidas, fragantes,

entrechuva e sol

e chuva

- que mãos vos colhem,

agora que estão mortas

as mãos que foram minhas.



Eugénio de Andrade

2 comentários:

catarina disse...

Ora não querem lá ver que o molusco se tornou num sentimentalão... eh eh... por acaso, assim que começou a Primavera também desatei a publicar fotos de flores no meu blog. Mas nenhuma das minhas flores urbanas se compara com as tuas cerejeiras beirãs! E poema do Eugénio, também não tenho... beijinhos!

Anónimo disse...

Frésias
são flores com cheiro a chá.


(satysea)