3/20/2007

Cadernos do Molusco

"Acta diurna"

Apesar do que João Marcelino e o Arquitecto Saraiva pensam, não foram eles que inventaram os jornais.
Já no tempo do imperador Marco Aurélio se publicava a "Acta Diurna", um vespertino gratuito que era afixado em locais públicos, com notícia sobre o saneamento básico de Roma, casamentos, funerais e baptizados (tipo Caras), e claro, os jogos do coliseu, com bolsas de apostas e o equivalente aos Rui Santos da época (mas sem as aberrantes gravatas) a comentarem o momento de forma dos gladiadores e as probabilidades dos cristãos sobreviverem aos leões.
Desconhece-se se o horóscopo e o oráculo tinham periodicidade fixa, mas é improvável, já que se tivesse sido publicado o oráculo de Júlio César nas suas "instruções públicas" (antepassado da "Acta diurna"), ele dificilmente teria ido trabalhar naqueles idos de Março, alegando uma enxaqueca súbita ou uma praga de chatos egípcios.O bridge também não merecia uma página na "Acta Diurna", para grande aborrecimento do seu provedor, que semanalmente recebia três cartas de jogadores de bridge iracundos, exigindo um espaço para bridge no jornal.

Vasco Pulido Valente ainda não assinava uma coluna na "Acta Diurna", porque estava a dar os primeiros passos na profissão e era considerado pouco acutilante nos seus escritos. Calígula chegou mais tarde a dizer sobre VPV: «É bom rapaz, mas tem demasiado bom feitio para ser jornalista. Falta-lhe instinct killer».
Foi então que um desolado VPV começou a beber, o que acabou por se revelar um contributo inestimável para a higiene intelectual pública do povo Lusitano no dealbar do Séc. XXI.
O tal povo de quem os romanos prudentemente diziam:
- Não se governam, nem se deixam governar.

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