1/30/2007

Prós e Contras - Serviço de desinformação pública

O programa Prós e Contras é um galinheiro de desinformação pública.
Conduzido por essa sopeira com tiques de governanta chamada Fátima Campos Foleira, o respeitadissimo programa é o retrato do jornalismo populista, gaiteiro e cabotino que se pratica na TV nacional.
O debate sobre o referendo à interrupção voluntária da gravidez foi um espelho daquilo que é este pais artificial e supérfulo criado para o prime time da satisfação da populaça ululante que coça os tomates de indignação lá em casa.
Por isso mesmo um programa desta índole seria sempre um palco mais adequado à grosseira demagogia e voluntarismo hipócrita dos partidários do Não, do que aos argumentos realistas e friamente humanistas do Sim.

Num palco de demagogia, uma voz séria e esclarecida como a de Vital Moreira seria sempre abafada pela estrindência sofismática de Aguiar Branco, que polarizou o debate em torno da peregrina tese de Marcelo Rebelo de Sousa de que "seria a favor da despenalização ou da criação de uma nova moldura penal para a interrupção voluntária da gravidez, mas que sou contra o aborto livre".
Dirigindo-se insistetemente "às pessoas lá de casa", este advogadote farsolas que já foi Ministro da Justiça e é um dos "cardeais elegíveis" do PSD, fez de um debate pretensamente "esclarecedor", uma sala de reuniões de uma qualquer distrital do seu partido, utilizando "truques" parlamentares para iludir as questões sérias que lhe eram colocadas e fazer vingar a sua tese de "aborto livre".

Vital Moreira tentou centrar o debate na questão penal e nas liberdades individuais, que penso eu serem o "coração" deste referendo, mas fê-lo por vezes numa linguagem meio criptada que dificilmente é "ouvida lá em casa", quando do outro lado se ouvem berros a gritar "ò da guarda, querem matar bébés".
E penso que, infelizmente, o bom senso sossobrou deste debate, porque se há combate difícil a travar em qualquer debate, é contra a demagogia.
Como se pode argumentar com pessoas que como a fadista Kátia Guerreiro são contra a despenalização do aborto "porque isso vai criar desigualdades sociais. Por exemplo as mulheres do interior vão ter vergonha de ir aos hospitais, porque toda a gente as conhece, enquanto nos grandes centros urbanos há a defesa do anonimato". Inacreditável monumento à burrice este raciocínio que qualifica bem quem a produz.

Depois é o tom moralista de defesa da vida que é insano e insuportável, como se todos nós os outros fossemos assassinos de crianças.
A falange do "Não" que ontem esteve representada no programa, é um retrato bem triste de um país mesquinho, hipócrita, intolerante e totalitarista que está escondido sob o verniz estaladiço destas elites bem pensantes. O país do Botas continua insepulto!

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