11/04/2006

Os Dantas de Caneças, Olé!

Se o Dantas é português eu queria ser espanhol.
É assim que pensam 28 por cento dos descendentes de Viriato, segundo o semanário Sol, que quando nasce é só para alguns.
Nós por cá, que não temos livros de poesia em casa para ler,nem laranjas de casca grossa para descascar, vamos brincando à iberização e escalfando o ovo nas ervilhas. É preciso defender o ovo escalfado e a ervilha contra a invasão da tortilha e da paella. Uma das coisas boas em Portugal é não precisármos de pensar para ter opinião e temos pena, lá isso temos, de não poder responder a inquéritos importantes do estilo - pensa que a extinção do bacalhau no mar do norte vai ter consequências na dieta mediterrânica e na vida privada do Pascoal?
Ora a mim que ninguém me pergunta nada, a não ser se já paguei o IRS (o Estado) ou se já fui ao dentista (a minha mãe), a mim parece-me que 28 por cento dos gajos que suam no metro em hora de ponta querem ser espanhóis por causa do carcanhol e do bom Governo.
Imaginam que se fossem espanhóis não teriam de andar a suar no metro em hora de ponta e que o bom Governo lhes meteria um Mercedes SLK na garagem, uma garrafa de Moet&Chandon no congelador, um Patek Phillipe no pulso e um voucher para uma semana nas Seychelles com uma morena escultural para meter nos lençóis.

Não percebo a indignação furibunda, iracunda, ejaculunda dos nossos putativos opinativos com a singela aspiração de uma população que passa duas horas nos transportes públicos para Caneças para chegar a casa e ainda ter de descongelar as ervilhas e escalfar um ovinho.
Eu próprio partilho daquelas singelas aspirações que o actual modelo de Estado social Europeu não está preparado para me dar.
Para já não preciso de seringas à borla ou desconto nos supositórios, mas uma semanada nas Seychelles dava-me jeito, lá isso dava.
É nisso que discordo dos meus 28 "compagnon de route" do Metropolitano de Lisboa. Mas porque raio havíamos querer ser espanhóis, que têm uma língua de gato vadio assanhado, gritam em vez de falar, aliás só falam e raramente se calam, dobram a voz do Humphrey Bogart e ainda por cima vestem-se sempre como se fossem para uma boda? Nunca me passaria pela cabeça ser espanhol e ter de ser feliz e expansivo por obrigação naciturna
Eu cá, se alguém me perguntasse, queria era ser holandês, fumar erva, ver quadros do Rembrandt e andar de bicicleta, ou então ser do Kuwait e ter uma auto-estrada só para mim, obviamente sem custos para o utilizador e sem limites de velocidade para o meu Ferrari Enzo.
Agora, espanhol!? Para isso prefiro continuar a andar de metro à hora de ponta e a comer ervilhas de pacote com ovos escalfados.

1 comentário:

MissTexas 84 disse...

:)

Tu realmente pá....Acho-te um piadão, não há volta a dar-lhe! Eh!Eh!

Beijinhos!