História improvável das coisas - O lenço de assoar
A Kleenex vende anualmente cerca de um zilhão de lenços de assoar em 134 países, à excepção da Coreia do Norte e de outros países do dito eixo do mal, que como se sabe são tramados de assoar.
Em pacotes de bolso ou caixinhas para colocar no tablier do carro ou ao lado do agrafador na mesa do escritório, os lenços Kleenexsão responsáveis directos pelo abate directo de cerca de dois milhões e trezentas mil árvores por ano.
Este intróito ecologicamente correcto serve para explicar porque é que tornar o lenço de assoar obsoleto foi um retrocesso civilizacional e também um mau negócio para a indústria de bordados à mão, já para não falar dos tarados de brasões, heráldica e filigranas. Longe vai o tempo em que o barão Karl-Heinz Von Foerster der Briegel Rummeninge et Haupsburgo on Baden podia assoar sonoramente as suas imponentes narinas austro-húngaras no linho macio e nas suas próprias iniciais KHVFBRH.
Actualmente o lenço de assoar é uma mera recordação de um tempo faustoso de público asseio e imundície privada. Um tempo em que os nossos egrégios avós depositavam meticulosamente a ranhoca no lenço de assoar, dobrando-o repetidas vezes até à capacidade de carga máxima aconselhar uma lavagem, e um novo lenço de assoar a despontar elegantemente no peitoril do paletó.
De acordo com a enciclopédia Brytannica o lenço de assoar começou a ser usado abundantemente na corte de Luís XIV, um costume introduzido pelo próprio Louis-Dieudonné (Luís Deusdado), que se celebrizou pelo seu mobiliário de quarto e pelo facto de proferir balelas grandiosas do estilo “O estado sou eu”, ou sábias verdades como “É mais fácil reconciliar a Europa inteira do que duas mulheres”.
A história da invenção do lenço de assoar está, segundo a enciclopédia brytannica, intimamente associada à aparição do guardanapo nas mesas da Velha Europa. Aquela pantagruélica enciclopédia remete esse facto para as memórias íntimas de Madame Valery Bicot, cortesã de opulento busto, que privou com os maiores taradões da corte de Luís XIV, incluindo o próprio, e que reuniu em opúsculos muito apreciados à época, um conjunto de picarescas confissões e depravações que lhe foram passando pelos cetim dos lençóis.
Na sua obra “Maneirismo: Retratos de más-maneiras”, Madame Bicot conta que o Rei era um grande consumidor de rapé e passava a vida a snifar aquele bendito aspergivo, que lhe originava cataratas de pingos no nariz.
Além disso, Louis Dieudonné era também alérgico a tapeçarias, huguenotes e pintelhos, o que lhe causava grande incómodo, já que passava a vida a assoar-se aos punhos folhados de renda, que naturalmente andavam sempre encardidos e faziam com que a sua diplomacia de punhos de renda fosse um bocado porcalhota.
Outra prática pouco elegante do absoluto suserano de toda a França era limpar o mangalho aos reposteiros depois de fornicar com as suas amantes, o que trazia grandes problemas à lavandaria de Versalhes e à côr do real instrumento, que por causa dos pigmentos dos reposteiros andava sempre esverdeada ou azulada, conforme o reposteiro.
Consultado o médico da corte, o Rei foi vivamente aconselhado a deixar-se dessas práticas de devassa higiene que lhe debilitavam a saúde e até podiam fazer perigar a sua masculinidade.
Com o terrível medo de se tornar panasca, o Rei convocou a sua modista preferida Madame Maria Lençot, expôs-lhe o problema. A desembaraçada mulher, descendente de emigrantes portugueses oriundos de Fornos de Algodres, rapidamente recortou com uma tesoura um quadrado de pano da almofada de linho, estendendo-o bem dobradinho ao rei, que grato lhe respondeu com as célebres palavras: “Lençot, tu peut t`assoir”.
A partir daí o rei passou a utilizar aqueles paninhos brancos para se assoar, e mais tarde, para limpar as beiças depois de se empanturrar em faisão com castanhas, já para não falar da terceira e última finalidade, que poupou os reposteiros de Versalhes a uma vida para a posteridade como banco de esperma real. De qualquer forma, a prudência aconselha os visitantes do Palácio Versalhes a levarem a sério o aviso “por favor não tocar”.
1 comentário:
Gostei dessa parte do «já para não falar dos tarados de brasões, heráldica e filigranas». :-) Brasões ainda sei o que são, heráldicas acho que se pensasse chegava lá. Agora filigranas... :-)
Jaime
www.blog.jaimegaspar.com
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