9/20/2006

Direitinha sem norte

Entre todas as vacuidades parolas que o senhor New Democracy Monteiro costuma debitar, salva-se uma reflexão, que vinda de quem vem ganha recauchutada lucidez. Diz o Sr. Monteiro que -à direita falta-lhe fazer o debate ideológico, que tenho de reconhecer, a esquerda tem vindo a fazer.

Ora bem, spoken to the point, ou como diria o Holmes - elementar, meu caro Monteiro,
gargalhou cinicamente o inglês.


LEG: A direita debate-se em think thanks e em reuniões de antigos alunos da Católica

Se repararem bem toda a agenda de tema que esturrem a ideologia é colocada pela esquerda. Não discuto aqui se a mundivisão da esquerda é ou não umbigo-orientada, mas o que é facto é que é possível conhecer uma coerência e uma linha de debate no discurso das várias esquerdas que se polarizam em torno de temas comuns na Europa - o estado social europeu, a diabolização da américa e a expiação da culpa do ocidente no fenómeno do terrorismo, os temas de liberdade individual, os direitos das minorias, o problema da imigração, a agenda politicamente correcta e higiénica, a igualdade feroz, o asco à globalização económica e ao capitalismo, etc, etc.
São tudo discurso martelados e repetidos até à exaustão que criam uma frente unitária de pensamento global que cimenta qualquer dinâmica ideológica.

E o que faz a direita bem pensante e arrogantezinha que emana das canteras civilizadissima das universidades europeias de cariz conservador (os espadinhas cá do burgo)?
Não faz rigorosamente nada.
Limita-se a snobar sardonicamente da agenda da esquerda, floreando umas piadas impertinentes e rebuscadas que servem o seu auto-contentamento e o seu ufanismo militante.
A única barrita energética de ideologia que a direita têm é a sua indomável e dogmática fé no mercado livre e na economia; no neo-liberalismo como santo graal do bem estar das sociedades modernas, nos postulados da Escola de Chicago, nas receitas falidas e sobretudo, numa ensurdecedora falta de ideias e de pensamento, que se escuda sob o seu discurso elegante e culto.
Um imenso discurso sobre o vazio, é o que nos propõe uma direita a reboque da agenda de esquerda.

A direita limita-se a pensar reactivamente ao contrário do que a esquerda pensa, e mesmo alcandorada na sua pretensa superioridade intelectual, ainda não percebeu que dificilmente consegue responder à pergunta - o que é ser de direita hoje? - O mais provável é dizerem que são a favor da economia livre e contra o politicamente correcto, sem saber que o politicamente correcto é nalgumas das suas variantes uma produção da sua própria cepa.



Goste-se ou não, a última vez que a direita se debateu a sério foi com a ofensiva neo-con na América, enquanto a esquerda europeia já anda mergulhada em problemas intestinais e metafísicos desde a queda do Muro de Berlim e da "débacle" da Terceira Via de Tony Blair.
Para visitar esta nova direitinha perfumada e vazia de conteúdo, (apesar do bom estilo) basta passar os olhos pelas crónicas de João Pereira Coutinho, pela revisionista Atlântico ou pela fileira de blogues alegadamente não-alinhados e que demonstram bem que o discurso diletante e o azedume cool contra a esquerdalha anda a precisar de uma organizaçãozinha mental e de causas próprias.
Ou seja, e que tal para variar, uma ideias próprias e não uma gozação com a esquerdinha moderna. Será que em Portugal, o seu Monteiro pode dar uma ajudinha a reunir este rebanho desgarrado e orfão? Ou o melhor é esperarmos pelo regresso do seu Portas?
A direita portuguesa está entalada entre o desafio do pensamento ideológico ou do discurso demagógico, e tem preferido quase sempre o discurso demagógico, o que a coloca muito mais perto da esquerda que abomina, do que os seus arautos gostariam de pensar.
É feio gozar com os vizinhos, quando se está tão perigosamente próximo.

Cá por mim, venha o diabo e escolha, porque de idiotas está o inferno lotado

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