Costa, aquele Bar
A notícia com mais Impacto que recebi dos camaradas beirões que não se remeteram a um voto de silêncio (esperemos que não seja extensível à castidade), é que o Costa, finalmente conseguiu trespassar o seu bar.
Mais do que as notícias do “ad eternum” regadio da Cova da Beira (para regar o quê, tremoço mijão, não?); da Beira rachada ao meio que nem uma melancia pela mão talhante de políticos-magarefe; das pompas e circunstâncias de Casino Culturais e Moagens de moer o juízo, ou de cartinhas indignadotas e lampeiras dos nossos edis nos diários nacionais; a única notícia verdadeiramente relevante para o futuro do Fundão e quiçá da humanidade é a "reforma" do Costa.
Tive uma pequena crise nostálgica quando li o “post” do Bruno, prontamente sanada com um H&B com gelo até às orelhas, em tudo idêntico àqueles que o Costa me costumava aviar às dúzias, nos bons velhos tempos do Fundão como terra de tertúlias e copadas valentes, que são dois ângulos do mesmo sorriso.
Na minha modestíssima opinião de emigrante-foragido e eterno forasteiro em terra própria, o Impacto Bar, ou simplesmente o Costa foi um verdadeiro marco da década de 90 na movida fundanense.
Arrepiem-se os putos modernaços, mais dados a "cool hipnoises", ou os cotas "selectos" encostados no balcão inamovível do Alô Alô, ou nas noitadas cada vez mais provincianas e bimbas da "Discoteca", mas o Costa foi durante muito tempo o Bar mais "cool" do Fundão.
Para mim sempre foi a versão mais próxima do "Cheers - Aquele Bar" que se podia encontrar na Cova da Beira. Um misto de bar de cidade do interior com café de tertúlia, despretensioso e simples, onde os ciganos do mercado iam beber o seu copázio durante as segundas-feiras, os putos das escolas bebiam um cafézinho e estendiam as tardes em namoricos a custo quase zero, para desespero do Costa, e depois à noite era invadido por uma fauna diversificada e animada, a dar um colorido diferente às noites do Fundão.
E depois havia o Costa. O mais "odiado" dono de bar do hemisfério Ocidental, com o seu "modus operandi" rezingão, a sua contabilidade feroz e o seu lendário mau feitio, resplandescente na caralhada.
Uma autêntica figura, mas também um bom coração, sempre pronto para um ameno cavaco regado a humor franco e brutamontes que sempre apreciei, enquanto lá me punha a par das últimas do Fundão, embalado pelos whisky troubles que me servia com a familiaridade de quem acolhe os "seus".
O que eu mais gostava no bar do Costa, por incrível que pareça, era mesmo o Costa.
O Costa e a judiciosa e tranquila Judite, na sombra, a zelar pela casa amiga.
A eles que sempre me abriram a porta em noites de "nevoeiro", ficarei sempre grato pelos bons momentos que ali passei, e pelos bons amigos que ali cultivei e reguei abundantemente com grandes maratonas de bom paleio e whisky de qualidade titubeante.
Para sempre gravadas na memória dos afectos, que é aquele que dura mais tempo, a saborosa sensação de chegar ao Fundão e "ir dar à Costa do Costa". Ali encontrava o Tall e o Vasco naquela primeira mesa, estilo primeiro balcão, em pose altaneira a guardar o mundo dos meros mortais, oTall DJ a passar música, da melhor que foi soando publicamente em vários anos de "top`s bimbos" que dominam o espectro musical beirão.
Boas memórias das grandes tertúlias com o Ricardo, o Vasco, o Tall, o Espanhol, o Salvatori, o Paulo e as "borboletas" Souto e Bruno, e tantos outros “habitués”. As discussões inflamadas pelo álcool sobre a globalização, a política, a literatura e sobretudo do futebol com o camarada Vasco e com o Ricardo são para mim momentos épicos das noites fundanenses, que depois transportávamos em euforias trôpegas para o English.
O Costa é também o local onde descobri o inconformismo e a criatividade do Zina e da sua deliciosa pandilha - com o Pimentinha e o Bentinho. Onde confidenciei pequenas vitórias, grandes derrotas, e ironias amigas com o Bigi-Bigi, meu amor-ódio de estimação, quando o whisky era invariavelmente arrasado pelos Ice-teas de manga.
Depois eram as matraquilhadas, as setas e até as máquinas de jogos; o Costa era também local de encontro invariável para as futeboladas estivais de meio de tarde. Era o Costa festivo e cheio do Natal e da Páscoa, onde todos nos reencontrávamos, onde a Sónia e o Zé Pedro, e a Patri e o Jaques namoravam, onde o João Ferreira encostava a barriguinha ao balcão e aviava copos com galhardia, onde o Lipe chegava sempre a rir com aquele ar de estrela pop-decadente, onde a Mariana e as amigas enchiam o bar de graciosidade e boa disposição.
Era também o Costa da mais longa e eterna esplanada das noites de Verão, cujas noitadas se prolongavam para lá dos limites camarários. A esplanada paredes-meias com a Sodo Mar, nome da loja de congelados que servia de pretexto para mil e uma graçolas Sado-masoquistas.
É no Costa que guardo a cara bonita e inconformada do Carvalho e do seu "happening", desfolhando as letras de Lou Reed ao som de "It´s a Perfect Day". E foi, um dos muitos “perfect days” e “glorious night`s” que passei no Costa.
Enfim era o Costa que dava ao Fundão um verdadeiro centro cívico, esplanada de cumplicidades, bar de confidências e alegrias, e também das pasmacentas tardes de Verão que se estendiam mansas e inúteis ao zunido das moscas.
Foi tudo isso que fechou quando o Costa trespassou o bar.
Resta saber se foi só o Costa que fechou, ou se foi um capítulo nas nossas vidas?
Como sou um optimista encartado acho que o melhor é pensarmos já em "abrir" outro capítulo, ou seja outro "Costa".
Bem haja Costa, aqueles que vão beber para outra freguesia, saúdam-te
PS: se alguém puder fazer chegar isto ao Costa, agradecia.
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